quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sem excepção


Embora eu andasse na escola junto com as filhas de uns amigos dos meus pais, e elas contassem quase tudo aos pais delas que, por sua vez, se queixavam aos meus, eles nunca souberam da missa a metade... Lembro-me de faltar às aulas para ir atirar pedras aos alunos de outras escolas, furar os pneus aos carros dos professores, bater nos alunos mais fracos, roubá-los só para provar mais aos outros do que a mim próprio que era capaz de fazê-lo. Grande besta!


Ainda sinto a sensação que tinha cada vez que o telefone tocava: escondia-me debaixo dos lençóis e esperava a vinda do meu pai, enquanto fingia que estava a dormir. Se a coisa era grave, ele "acordava-me", senão amanhecia amedrontado na expectativa que, ao encará-lo, a noite de sono já o tivesse amansado. Aos 13 anos tive de dizer ao meu pai que tinha sido suspenso por dois dias, porque tinha atirado uma bomba de Carnaval para a reunião do Concelho Directivo. Aproveitei para acrescentar que estava chumbado por faltas, e ainda confessei que fumava. Exasperado, gritou, olhou-me desiludido e, para não dar cabo de mim, mandou-me desaparecer da frente. Terá pensado: "Mas onde é que eu errei?"

Gaby (Eduardo Gare) é um rapaz com 14 anos que tem medo de ir ao colégio, porque é perseguido por Guille (Eduardo Espinilla), o valentão da escola que se faz acompanhar por um grupo de amigos. Nem a sua família, nem os professores estão conscientes daquilo que se passa. Gaby encontra apoio em Carla, uma colega pela qual está apaixonado, e em Silvério, o dono da pizzaria onde jantam quase todos os dias. Proveniente de uma família rica e poderosa, Guille também tem medo: ele não quer decepcionar o pai que está longe de perceber os actos e atitudes do filho. “Cobardes” (2008), filme dos espanhóis José Corbacho e Juan Cruz, também realizadores de "Tapas" (2005), trata do tema da violência nas escolas e da falta de tempo dos pais para lidar com certas situações.

Como será que me vejo daqui a 30 anos e me lembrar dos meus 40?

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Michelangelo

Se eu fosse realizador de cinema e me propusessem fazer um filme sobre um pintor à minha escolha, eu teria sérias dificuldades em saber qual deles escolher: Bacon, Klimt, Dali, Rego? Não teria, porém, com toda a certeza, qualquer dúvida na forma de filmar a vida e obra do pintor escolhido. Usaria a iluminação e os cenários consoante a obra desse artista, por forma a transportar o espectador no tempo e no espaço.

Tenho visto alguns filmes sobre pintores, mas, raros são aqueles que, quanto a mim, conseguem reproduzir fielmente aquilo que falo. O inglês Derek Jarman, na sua obra “Caravaggio” (1986), consegue reproduzir as imagens barrocas dos quadros de Michelangelo Merisi de Caravaggio, seguindo fielmente a estética do mesmo. Num jogo de luz e sombra, Jarman compõe uma batalha constante entre o belo e o feio, a riqueza e a pobreza, o génio e o louco, o sagrado e o profano. Aos poucos, vai-se revelando a personalidade daquele que, para a época era considerado enigmático, fascinante, perigoso e levou o principio estético às ultimas consequências, a ponto de ter sido acusado de usar o corpo de uma prostituta assassinada para pintar “A morte da Virgem”. Uma das características mais importantes na sua obra é retratar o aspecto mundano dos eventos bíblicos, usando o povo comum das ruas de Roma.


Nigel Terry (o Rei Arthur de Excalibur), para além das semelhanças físicas com o próprio artista, encarna tão bem a pele do pintor, que me deixou confundido quanto à sua verdadeira identidade. Sean Bean, Tilda Swinton, Robbie Coltrane, Michael Gough, Dexter Fletcher, são alguns dos actores que participam nesta obra-prima.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Marca negra

Fui convidado a entrar. Não morri e tornei-me um deles.

O meu corpo tem o mesmo vigor e a mesma energia que tinha na altura em que fui mordido. Não sei a minha idade, já há muito que deixei de contar os anos. A verdade é que, para sobreviver, preciso de me alimentar preferencialmente de sangue humano. Fascina-me o poder da mutação e a capacidade de voar. Desaparecer no nevoeiro e nenhum espelho me ver. O lado oculto e místico sempre me enfeitiçou. Mas, acima de tudo, o poder de sedução que me faz atrair as mulheres capazes de saciar a minha sede.

Muito se fala acerca de vampiros, será que existem? Será apenas uma lenda? Histórias sobre vampiros são bastante antigas e aparecem na mitologia de muitos países, principalmente na Europa e no Médio Oriente, na mitologia da Suméria e da Mesopotânia, contudo as referências mais antigas a seres vampíricos vêm do folclore da Índia, Tibete e do Antigo Egipto. Mas, se eles não existissem, qual seria a finalidade em criar uma sociedade espiritual como Aset Ka? Sendo esta uma instituição ocultista responsável por manter a tradição Asetiana, é a principal referência relativamente a conhecimento vampírico e a mais influente ordem de vampiros a nível internacional. A Bíblia Asetiana, cuja versão de acesso público foi publicada em 2007 por esta sociedade, foi escrita por Luís Marques, um autor de origem portuguesa.


“Nosferatu (1922)” de Murnau; “Drácula (1931)” de Tod Browning; “Drácula (1958)” de Terence Fisher; “Drácula de Bram Stoker (1992)” de Francis Ford Coppola, são eternos filmes sobre este tema, mas, “Deixa-me entrar” (Låt den rätte komma in 2008), do realizador sueco Tomas Alfredson é, como disse Nuno Markl: “De vez em quando, lá vem um filme que deixa um tipo completamente abananado… Deixa-me entrar não me sai da cabeça”. Óskar (Kåre Hedebrant), um frágil rapaz de 12 anos, é agredido e ridicularizado regularmente pelos colegas, sem nunca se tentar defender. O desejo do solitário rapaz em ter forças para se vingar só parece concretizar-se quando conhece Eli (Lina Leandersson), da mesma idade, que se muda com o pai para o apartamento do lado. Eli é uma rapariga pálida e séria, que só sai de casa à noite e parece não ser afectada pelas temperaturas gélidas. Coincidindo com a sua chegada, surge também uma série de inexplicáveis desaparecimentos e assassínios…


segunda-feira, 16 de novembro de 2009

E o mau sou eu

São 08:30 da manhã. Saio de casa para ir trabalhar. Faço o mesmo percurso todos os dias, mas hoje foi diferente. Cheguei à auto-estrada e o trânsito estava caótico. Nunca tinha visto tal engarrafamento. Estou parado a 15 km da saída deste amontoado de carros. Só pensava nas pessoas que todos os dias fazem horas para chegar ao trabalho. Foi a primeira vez que apanhei 30 minutos de fila e já não aguentava mais. Apetecia-me bater em toda a gente, abrir caminho entre os carros e sair dali. Porque é que haviam de estar ali todas aquelas pessoas, à mesma hora que eu? Porra!

William Foster (Michael Douglas), começou o dia mais ou menos como eu. Num dia igual a todos os outros, William acordou, vestiu a camisa, pôs a gravata, e foi trabalhar. Entrou no carro e arrancou, para não tardar a ficar preso no tráfego. Pegou na sua pasta de executivo e fechou o carro, deixando-o no meio da via ignorando as buzinadelas dos outros condutores. William atingiu o limite. Passou-se com tudo aquilo que pode levar à loucura um homem comum tão igual a nós.

O ritmo de trabalho, as necessidades familiares, as exigências e as pressões da cidade, a ansiedade, a violência, a corrupção, acumulado a tantos pequenos nadas do quotidiano como o egoísmo, a falsidade, o consumismo, a insensatez e estupidez alheia, a publicidade enganosa, a comida de plástico põe-nos em ebulição. Foi o que lhe aconteceu neste dia escaldante. William ferveu no dia em que a sua maior preocupação era chegar a tempo de comemorar o aniversário da sua filha. Esse dia iria mudar a vida deste pacato homem de família, da mesma forma que alterou a minha admiração por Douglas pela maneira como encarnou a personagem.

Joel Schumacher assina, em 1993, “Um dia de raiva” (Falling down), um autêntico documento sociológico que, a meu ver, deveria ser estudado na escola. É preciso saber "desligar", aprender a passar por cima ou contornar as adversidades do dia-a-dia, para não cair na tentação de voltarmos aos nossos instintos mais primários.


terça-feira, 10 de novembro de 2009

Assustador



A droga é um problema real. Nunca me preocupei muito com isso. Toda a minha vida vivi com ela junto de mim sem nunca ter enveredado por aí. Claro que fumei charros, quem não o fez? Agora tenho dois filhos que crescem a uma velocidade alucinante e essa questão assalta a minha cabeça a cada dia que passa. Tenho visto de tudo e, não me venham dizer que isso só acontece aos outros, porque, seja qual for a educação, religião, nível social, o problema da droga não escolhe ricos ou pobres, pode bater à porta de qualquer um. Por isso sinto medo.

Considero que cannabis, heroína, cocaína, ecstasy, não são as únicas substâncias nocivas que levam à dependência. O álcool, o tabaco, os comprimidos para dormir, para não dormir, para acordar, emagrecer, ou mesmo para rir e nos sentirmos mais felizes, podem ser "drogas" tão ou mais viciantes quanto as outras. Os simpatizantes de policonsumos (associações de substâncias ilícitas e/ou lícitas), muito em voga nas camadas mais novas, não se consideram toxicodependentes, mas são uma preocupação crescente na sociedade.



“A vida não é um sonho” (Requiem for a dream 2000), do argumentista/realizador americano Darren Aronofsky, é um filme sobre essa realidade. Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), é uma mulher solitária que encontra o sentido da vida numa possível ida a um concurso televisivo. Para caber no seu melhor vestido vai ter de emagrecer rapidamente tomando comprimidos (ácidos) para atingir o seu objectivo. Harry Goldfarb (Jared Leto), a sua namorada Marion (Jennifer Connelly) e o seu amigo Tyrone (Marlon Wayans), só têm uma coisa em comum: apesar de consumidores, nunca admitem estar “agarrados”. À medida que o tempo vai passando a dependência deles vai sendo cada vez mais evidente, nem Tyrone sai daquela vida, nem Harry ajuda a cumprir o sonho de Marion. E de repente vêem-se a fazer coisas que jamais fariam em condições normais.
20 prémios e 33 nomeações uma delas para o Óscar da Academia para melhor actriz (Ellen Burstyn), reconheceu a esta longa-metragem o seu devido valor.

Eu gostava que os meus filhos vissem este filme, mas com que idade serão eles capazes de sentir o mau-estar, a sensação de impotência que eu senti durante o filme? Qual é a altura certa para eles perceberem a degradação a que estamos sujeitos a partir da primeira experiência? Só senti o buraco no peito com que fiquei no fim do filme quando li "Viagem ao mundo da droga” de Charles Duchaussois. Que idade teria eu?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Mais um... menos um


Existem realidades que nos passam completamente ao lado. Nós queixávamo-nos que os professores não prestavam, que as aulas eram uma “seca”, que a matéria não interessava. Quando os “stores” faltavam, era uma festa, ía-mos para o recreio jogar à bola, ao pião ou, se conseguíssemos que algumas raparigas nos acompanhassem, jogávamos ao bate pé. Tudo servia de desculpa para não ir às aulas. Constantemente esperávamos pelo segundo toque para subir, sempre eram uns minutinhos a menos…

Pois é. O facto é que tínhamos aulas, professores, contínuos, carteiras, canetas e cadernos para poder escrever, pintar, fazer contas. Quadros, giz e apagadores (que muitas das vezes serviam como arma de arremesso). Mas em certos sítios nada disso existe.

Quando o professor da escola primária de Shuiquan tem de se ausentar durante um mês é preciso encontrar alguém que o substitua. O responsável da aldeia procura nas redondezas quem o possa fazer, mas a única pessoa disponível para o trabalho é Wei Minzhi (Wei Minzhi), uma rapariga de 13 anos. A única coisa que o professor lhe pede é que não perca nenhum aluno. Mas, a vida não vai ser nada fácil para esta substituta, pois logo no primeiro dia fica sem uma aluna que aceita um convite de outra escola. Mais tarde, volta a perder outro aluno que parte para a cidade afim de arranjar trabalho, pois a mãe é doente e as dívidas são mais que muitas. A determinação de Wei é forte, e ela tudo fará para o trazer de volta.

“Nenhum a menos” (Yi ge dou bu neng shao 1999), filme em jeito de documentário do realizador chinês Zhang Yimou e primeira produção do ramo asiático da Sony, a Columbia Pictures Film Production Ásia, traz-nos um filme simples acerca de uma realidade existente no interior da china, tão real que os actores são pessoas normais filmadas no seu quatidiano.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A surpresa da arte



Passei por uma galeria de arte e resolvi entrar. Uma nova exposição de um pintor, não me recordo do nome, acabara de inaugurar. Pasmado olhei as suas obras não as entendendo. Pregos enferrujados presos por fios de nylon, sobrevoavam uma paisagem de madeira meio ardida, pintada de branco e cor-de-laranja. Um dos quadros tinha por título “Jamais me ocorreu pensar em ti…”. Ok, obrigado, também não vou perder mais tempo contigo, pensei. Furioso, saí e fui-me embora.

Qual o limite para aquilo a que se chama arte? Quem tem o direito de dizer que uma coisa é arte e a outra não? E porquê?

Evelyn (Rachel Weisz), uma estudante de artes, conhece Adam (Paul Rudd), um atrofiado vigilante de um museu. Acha que ele tem potencial e começam um fervoroso namoro. Com o evoluir da relação, Adam, vai sofrendo uma tranformação, física e psicológica, que vai alterar toda a sua maneira de estar no meio social onde se insere. Phillip (Fred Weller) e principalmente Jenny (Gretchen Mol), seus únicos amigos, vão ser afectados por estas alterações de Adam. O ego de Adam está ao rubro até Evelyn apresentar o seu trabalho final de fim de curso, arrastando-o para um verdadeiro desmoronamento humano.

“A forma das coisas” (The shape of things 2003), é um filme baseado na peça de Neil LaButte e realizado pelo mesmo autor americano. Não é para mim uma obra prima, mas prima pela surpresa. Para quem vê milhares de filmes, como eu, não é fácil ser surpreendido.


Dormir de olhos abertos

Os meus pais tinham de fechar a porta à chave e retirá-la para eu não sair para a rua. Fartava-me de fazer coisas durante a noite e, de manhã, não me lembrava de nada. Certo dia, levantei-me, tomei banho, vesti-me e sentei-me à entrada da casa. Quando o meu pai acordou e me viu naquele estado, perguntou-me o que é que estava a fazer e eu, não fazia a mais pequena ideia. Como é possível uma pessoa tomar banho e nem assim acordar? Pois garanto que foi isso que me aconteceu.

O sono tem cinco estágios durante os quais as ondas cerebrais diminuem de intensidade até atingir um profundo estado de relaxamento. A baixa actividade mantém-se no hipotálamo, ligado à consciência, e no córtex cerebral, que controla os movimentos do corpo. No caso dos sonâmbulos, essas ondas, vindas de uma área do cérebro chamada ponte, são irregulares. Por isso não cumprem a contento a função de inibir a região motora. Como as áreas motoras permanecem activas, o sonâmbulo é capaz de se sentar, andar e trocar a roupa. Já a área relacionada com a consciência mantém-se quase inactiva. Isso explica que quem sofre desse distúrbio, não perceba o que faz nem se lembre de nada no dia seguinte.

Até onde nos pode levar o sonambulismo? O que é que uma pessoa é capaz de fazer neste estado?

“Transferência mortal” (Mortel transfert 2001), do francês Jean-Jacques Beineix, trata a história de Michel Durant (Jean-Hugues Anglade), um psicanalista que passa os dias no seu consultório a ouvir Olga Kubler (Helène de Fougerolles), uma perversa cleptomaníaca com tendências sadomasoquistas. De tal forma este assunto desperta Michel, que este acaba por adormecer nas consultas. Numa das sessões, enquanto “passava pelas brasas”, a paciente deixa-se matar. Quando o médico acorda e percebe que ela está morta e que foi asfixiada, vai ter alguns problemas para resolver: quem a matou? (as dores que tem nos braços podem levá-lo a pensar que terá sido ele); como se livrar do cadáver?; como não deixar a policia desconfiar de nada e como se desenvencilhar do marido de Olga que a procura incessantemente?



quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Memórias de sotão


Sempre julguei que, quando crescesse iria ser artista. Junto com os meus primos e com a ajuda de alguns tios, fazíamos teatros. Treinávamos e decorávamos os textos para, durante o fim-de-semana, apresentar aos crescidos. Desde a Cabra Cabrêz – salto-te em cima faço-te em três - até à Nau Catrineta, em que o meu irmão, que tinha apenas uma linha para dizer: “- Isto é demais para um guarda só!”, se enganava constantemente e dizia que era demais para um guarda-sol. E não pensem que era de qualquer maneira, não, vestíamo-nos a rigor com qualquer trapo que descobríssemos nos baús que existiam no sótão. Baús esses cheios de coisas antigas embrenhadas em mistérios passados, onde encontrávamos também o material necessário para a montagem dos cenários.

“Chansonia” era, para três amigos, o sonho de vida, como para nós eram aqueles teatros que fazíamos quando pequenos. Com a vitória da frente popular em França, decorre o ano de 1936, o pequeno gueto de Faubourg, é afectado pelo desemprego e pelas lutas sindicalistas, obrigando ao fecho do teatro de bairro. Pigoil (Gerard Jugnot), Milou (Clóvis Cornillac) e Jacky (Kad Merad), aliados a Deuce (Nora Arnezeder), vão lutar para que a Chansonia resista a estes tempos conturbados com a "ajuda" de Galapiat (Bernard-Pierre Donnadieu), o mafioso da vila. A vida de Pigoil ainda se complica mais quando lhe é retirada a custódia do filho e, para que possa resolver a situação, terá mesmo de arranjar trabalho.

Faubourg 36” (2008), do realizador francês Christophe Barratier que, em 2004, nos tinha surpreendido com uma obra soberba chamada “Os Coristas”, devolve-nos a esperança de que podemos alcançar qualquer coisa na vida, se quisermos, bastando para isso acreditar e não deixar morrer o sonho.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Se eu fosse um gangster

Sempre achei graça aos gangsters. Poder fazer aquilo que se quer sem ter que dar explicações a ninguém, deve ser fantástico. São poderosos, contratam alguém para aniquilar quem desafie os seus caprichos, e pronto. Vestem-se bem, com estilo e fazem-se acompanhar por belas mulheres e altos carros. Vivem num mundo de luxo, cheio de dinheiro, jogo, álcool, sexo… Sabem viver!

Os chamados gangsters não são exclusivos da Itália. Yakusa, uma organização criminosa japonesa, é um clã, como se de uma família se tratasse, sendo talvez a mais rígida das hierarquias do mundo do crime.
O oyabun (pai) é o chefe, wakashu são os seus filhos e kyodai os seus irmãos. Todos devem total obediência e lealdade ao oyabun, e em troca este oferece proteção a todo o clã. Os membros não devem ter medo de morrer pelo oyabun, e devem concordar com tudo o que ele diz.


“Ichi – O assassino” (Koroshiya 1 2001), do japonês Takashi Miike, é um filme sobre esses clãs. Anjo, um chefe yakusa desaparece e com ele desaparecem 3 milhões de ienes. Kakihara (Tadanobu Asano), leal membro devoto a Anjo, acha que este foi raptado, inicia uma busca sangrenta para descobrir quem o fez. Tarado como é, os seus métodos preocupam a todos, inclusive um ex-policia que vai contratar Ichi (Não Omori), outro tarado, para deter Kakahira.

O filme soma cenas de sangue e desmembramentos. Começa com um homem a espancar uma mulher... Logo a seguir um outro indivíduo pendurado por ganchos, leva com uma panela de óleo a ferver… Mas calma, ainda só passaram 10 minutos! Visualmente brutal e surpreendente o filme consegue não cair no estilo gore devido à genialidade de Takashi Miike.

Bem, e agora, se me permitem, vou tratar do meu clã.



quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mente "espartilhada"


A vantagem de ter uma família grande está na diversidade de histórias da mais variada índole, amor/ódio, fortuna/infortuna, aventuras/desventuras, e segredos que, mais tarde ou mais cedo, deixam de o ser. Tenho um tio cuja mulher o deixou para se juntar ao irmão dele, que por sua vez era casado com a irmã dela. Esta viria a casar com o marido da irmã, seu ex-cunhado. Confuso? Passo a explicar: A tia A, casada com o tio B separou-se para se juntar ao irmão dele, o tio BB. O tio BB era casado com a tia AA, irmã da tia A, por quem este a viria a trocar. Tantas voltas a vida deu, que a tia AA veio a casar com o tio B e, supostamente, vivem todos muito felizes com os “meus, os teus e os nossos”. Inconscientemente ou não, a mudança acabou por ser mínima, pois continuam a ser cunhados e a fazer parte da mesma família.

Em pleno início de século XX, Alma (Leonor Watling) é uma mulher moderna, muito “à frente” para o seu tempo, com horizontes amplamente alargados face às demais e casada com o conhecido psicanalista León Pardo (Àlex Brendemühl). Numa altura em que o interesse pelo estudo da mente está no auge, - com Freud a tentar dar um revolucionário status científico ao conceito de inconsciente - Pardo desaparece a poucos dias da visita do pai da psicanálise para uma palestra em Barcelona, onde decorre a acção. Alma pede ajuda a Salvador (Luís Tosar), seu cunhado, para analisarem os estudos do marido na tentativa de descobrirem o seu paradeiro. Com esta proximidade, Alma descobre que, apesar de conscientemente nunca o ter seduzido, Salvador nutre por ela desejos desde sempre reprimidos e, desse envolvimento nasce uma relação explosiva.

Numa
subtil sátira à sociedade daquela época, a personagem principal serve de prenúncio às surpreendentes mutações socio-economicas e político-culturais que antecedem os Loucos anos 20. Os Estados Unidos da América emergem como potência mundial e por toda a Europa, surgem movimentos nacionalistas que alimentam a criatividade artística.

A partir de 1913, ano em Mary Jacob patenteava o soutien, esta peça ficaria eternamente aliada à busca da sedução. Alma, pela sua essência, terá sido uma das primeiras mulheres a pôr termo à “escravatura do espartilho”, digo eu. “Inconscientes” (2004), do catalão Joaquín Oristrell, é tudo isto e muito mais…


domingo, 12 de julho de 2009

"Não é justo!"


Primeiro dia de Verão de 2009. 35° de máxima transportam-me à minha infância. Perto da minha rua, havia um repuxo em frente à igreja. Nos dias mais quentes, o lago era povoado de meninos que, de cuecas, saltavam e brincavam alegremente na água. Eu e o meu irmão roíamo-nos de inveja, mas o meu pai dizia: "- Nem pensem em juntar-se a esses barraqueiros que não têm onde cair mortos!" Então, a suar que nem uns porcos, caminhávamos até casa, de olhos assentes no chão e a ranger os dentes de raiva. À medida que nos íamos afastando, o som das gargalhadas e dos gritos que os meninos davam a chapinhar na água ía-se diluindo. Lembro-me perfeitamente de pensar: "porque raio não posso eu ser como eles? Qual é o mal de mergulhar na fonte?!"

Giacinto Mazzatella (Nino Manfredi), perde um olho durante o expediente e, por isso, recebe uma indeminização de um milhão de liras. Esconde-as na barraca onde vive mas, com medo que alguém as roube, dorme abraçado a uma caçadeira e obriga a familia a viver na mesma divisão. "Feios, porcos e maus" (Brutti, sporchi e cattivi 1976), filme do italiano Ettore Scola, retrata a miséria humana através de uma família que habita um bairro de lata nos arredores de Roma. A pobreza extrema é uma realidade chocante e mostra a outra faceta da grande cidade. Marginalizados e com leis à sua medida, os habitantes do bairro construíram o seu próprio ghetto nas sobras e na indiferença da sociedade. Com noções éticas deficientes e inocentemente rudes, estes “indígenas” dão-nos uma nova visão do conceito de família. Filhos, pais, avós, amantes, penduras, motas e ratos, inventavam espaço na pequena baracche em que viviam, para comer, dormir, lavar a roupa e, simultaneamente fornicar.

Se calhar o meu pai tinha razão...

terça-feira, 7 de julho de 2009

Meu anjo


Lembro-me perfeitamente do ar guloso com que olhava para as raparigas, e dos comentários que fazia entre o meu grupo de amigos, como se fosse o único para quem as miúdas - de um calibre superior - pudessem, sequer olhar. Se passava uma gaja gira e "boa como o milho", orgulhosamente repetia a boca de que era "areia a mais para a camioneta" deles. Para mim, que dificilmente admitia que a minha camioneta não era diferente, era mais fácil defender-me, rotulando-as de estúpidas. No fundo, nenhum de nós acreditava que o outro pudesse namorar com uma miúda daquele campeonato mas, mesmo assim, não deixaram de ser alvo de arrebatadoras e secretas paixões.

André (Jamel Debbouze), uma figura de metro e meio, boémio, que deve dinheiro a meia-Paris, decide pôr fim à sua desgraçada vida, atirando-se de uma ponte. Acaba por saltar, não para se matar, mas para salvar uma loira escultural que, nesse mesmo momento, também se iria suicidar. Angel-A (Rie Rasmussen), vai ajudar André a resolver os seus problemas, que culminaram numa ameaça de morte. Ele acaba por se envolver por este misterioso ser caído do céu e, fruto dos laços criados entre ambos - com o intuito de tirá-lo do buraco em que se meteu - apaixona-se.

“Angel-A” (2005), filme do francês Luc Besson, é um filme bonito, sensual e cativante. A subtileza da cor do filme, (não é preto e branco, é uma cor descorada, com predominância no azul), leva a que nos foquemos invariavelmente no tom da imagem. Tão subtil quanto a suavidade dos movimentos de que a câmara de Besson é capaz, criando um ambiente envolvente.

Ainda bem que não me dou com o André... Ou lhe sacava a brasa, ou teria que engolir as bocas!

terça-feira, 30 de junho de 2009

Cabeça no ar


Acho que já não sou tão aéreo como antes. Sempre me debati, no sentido de lutar para manter a concentração. Durante as aulas, fazia um esforço para não ceder à facilidade com que me alheava, perdendo-me em mundos imaginários.

Através da janela, via um avião e lá ia eu... Pilotava um caça F16 e combatia os inimigos, fazia loopings com o meu "viper" a uma velocidade supersónica e voava até ao porta-aviões onde aterrava como um verdadeiro herói. A fuzelagem do meu Fighting Falcon estava orgulhosamente coberta de cruzes, que correspondiam ao número de aviões abatidos. Nunca cheguei a contá-los, por culpa da maldita professora de matemática que insistia em me fazer "descer" ao quadro, transformando as minhas cruzinhas em símbolos de somar e multiplicar. Ela e os meus sonhos nunca se compatibilizaram. Eu e a matemática também não.

É bom sonhar acordado, mas daí a ter um coelho gigante a anunciar o apocalipse, ultrapassa qualquer barreira cósmica! “Donnie Darko” (2001), do americano Richard Kelly, transporta-nos a uma pequena cidade, onde Jake Gyllenhaal dá vida a um miúdo que sofre de transtornos do foro neurológico, delírios e súbitas fugas à realidade. Ao evitar que a personagem (Donnie Darko) seja esmagada por uma turbina de avião enquanto dorme, o coelho gigante - Frank - encarna a pele de uma divindade que lhe poupou a vida. Alucinação ou não, o coelho irá acompanhar o rapaz para todo lado, obrigando-o a tomar medidas (no mínimo) censuráveis, ao mesmo tempo que profetisa o fim do mundo.

O mundo da Lua continua a fazer-me sonhar. Dai-me asas para voar, meu Deus! Mas permita-me, sempre, ter o discernimento para nunca as deixar queimar.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Menino de coro


Toda a minha vida tenho sido um tipo distante, frio e arrogante perante os outros. Nas festas, nos convívios sociais, no trabalho, se alguém fala comigo, até sou capaz de lhes responder, mas sem pôr de lado o ar altivo que me caracteriza e, sem esboçar um sorriso. Ignoro a presença de uns e desvio o olhar de outros. Tento concentrar-me em certos temas, faço um esforço para ouvir algumas pessoas, mas sem sucesso. Na escola fui suspenso duas vezes. Alguns professores prescindiam da minha presença destabilizadora, prometendo não me marcar falta, mas mesmo assim, não lhes fazendo falta nas aulas, consegui chumbar um ano por faltas. Fui expulso da catequese pela Dona Ângela, que argumentava que eu era uma má influência para os outros “cordeirinhos”. Na rua, atirava pedras, riscava os carros dos vizinhos e furava os pneus dos “stores”.

Quem ler esta descrição, há-de pensar: - porque é que o pai deste animal não o enfiou num colégio interno? Há-de achar que sou um selvagem, bárbaro e sem escrúpulos. Mas deixem que vos diga que… até não sou mau gajo.

“Cruel” (Ondskan 2003), nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004, é a segunda longa-metragem do sueco Mikael Hafström. Propõe um amargurado olhar sobre os códigos sociais, a violência e o crescimento. Combina austeridade e fragilidade, sem estereotipos melodramáticos ou vícios de um típico “filme-choque”. O filme conta a história de Erik Ponti (Andreas Wilson), e a sua última oportunidade para se libertar de um passado de conflitos e violência. Mas o colégio é tudo menos um refúgio – aqui, o mal está sistematizado sob a forma da opressão.

Do que eu me livrei...


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Uma questão de classe


O poder e o dinheiro sempre dividiram o ser humano. Segundo a visão marxista de mundo, a história da humanidade é a sucessão das lutas de classes, de forma que, sempre que uma classe dominada passa a assumir o papel de classe dominante, surge, em seu lugar uma nova classe dominada. Desde os nobres, ao clero e à emergente burguesia, não muito diferente dos chamados "Pato-bravos" do meu tempo, o dinheiro impulsionava o poder. A arraia-miúda sujeitava-se, bem ou mal, a ser governada. Com o desenvolvimento do sistema capitalista industrial, a estratificação das classes sociais segue a convenção baixa, média e alta.

Hoje, antigos cidadãos inexpressivos socio-economicamente, têm, pontualmente, vindo a ganhar uma crescente expressão na sociedade actual. Mas... e se a coisa corre mal? O que acontece se pegarmos num homem simples e lhe dermos dinheiro e poder? Ou se, pelo contrário, deixarmos um rico sem sustento? Qual será o comportamento de cada um deles?

"A experiência" (Das Experiment 2001) do alemão Oliver Hirschbiegel, realizador que viria a fazer o filme "A Queda" em 2004, traz-nos um estudo do comportamento humano numa situação específica. Vinte prisioneiros são escolhidos para fazerem parte de uma experiência socio-psicológica, a troco de dinheiro. São organizadas duas equipas: uma que representa os prisioneiros, a outra, os guardas. Mantidos numa zona afastada dentro da prisão, e com as regras do jogo definidas. Ao princípio tudo corre bem, mas a certa altura, o grupo que representa os guardas vai, inevitavelmente, abusar do poder que lhes foi conferido.

Esta experiência, inspirada em factos reais conduzidos por Philip Zimbardo da Universidade de Stanford numa prisão simulada em 1971, acabaria por revelar um duelo de poderes, que o filme comprova.

Resumo da ópera: nunca se deve julgar o comportamento das pessoas, pois nunca saberemos qual seria a nossa reacção numa situação similar.


quinta-feira, 18 de junho de 2009

Amo. Sou forte.


Às vezes sinto que estou a desperdiçar a minha vida. Sinto que não estou bem onde estou. Sinto que tenho imenso para dar ao mundo. No entanto, mantenho-me sentado à espera que o tempo passe. Nasci com jeito para fazer quase tudo, mas acabei por não fazer nada de jeito. Talvez devido ao meu feitío, não sei. Sonho. Sonho todos os dias em fazer alguma coisa que realmente goste, mas acordo, ponho o sonho de lado e volto à minha inerte vida sem interesse algum.

Cada um "escolhe" aquilo que quer fazer da sua vida, uns mais do que outros, bem sei, mas temos essa hipótese. Por isso, não tenho o direito de me queixar. Se estou onde estou, e não mudo, mea culpa.


Morvern Callar (Samantha Morton), caixa de supermercado numa remota cidade costeira na Escócia, acha que a vida deve ser levada da melhor maneira possível, com os meios que temos. Não nos devemos queixar, mas sim aproveitar. Um dia chega a casa, e dá com o namorado morto no chão. Tinha-se suicidado. Deixou-lhe uma mensagem que dizia “Amo-te. Sê forte”, um cartão de crédito e uma disquete, contendo o romance que acabara de escrever. Decide então publicar o livro, como se fosse da sua própria autoria.

“A viagem de Morvern Callar” (2002), da realizadora escocesa Lynne Ramsay, consegue transmitir a angústia e a solidão desta mulher, cuja capacidade de adaptação surpreende até a sua própria vida. O princípio do filme é desesperante, porque passamos 10 minutos a advinhá-la sentada no chão, onde o encarnado do sangue se mistura com uma árvore de natal decrépita e meia dúzia de presentes mal embrulhados. A soberba intrepretação de Samantha Morton na pele da rapariga que não aceita a morte do namorado, leva-a a viver a sua rotina, enquanto o corpo vai apodrecendo lá em casa, até que decide começar a sua viagem.

A viagem é a fuga à realidade. Haja quem possa…


quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Rei manda

As mulheres queixam-se porque têm que trabalhar, tratar da casa, dos filhos e do marido. Dizem que não têm tempo para elas. Não vejo onde está o problema. Ontem não tivemos empregada, tinha de "ir ao Doutor!". Tocou-me a mim apanhar o meu filho no colégio e passar a correr no supermercado, antes de ir para casa. Fiz as camas, lavei as casas de banho e nisto, chega a carrinha com a minha filha. Entre brincadeiras, choros e amuos, lavei a loiça do pequeno-almoço, arrumei a cozinha, despejei os cinzeiros, ajeitei as almofadas dos sofás e aspirei a sala. Parei a meio para enfiar os putos na banheira e aproveitei para preparar o jantar. Acabei de limpar tudo e tirei-os já enrugados do banho. Vesti-lhes os pijamas e escolhi um filme, enquanto fumava tranquilamente um cigarro. Tudo isto é possível quando a pessoa é organizada, disciplinada, metódica e não perde o comando da onda.


“A onda” (Die welle – 2008), título e símbolo do filme alemão, dirigido por Dennis Gansel, mostra-nos como é fácil levar um conjunto de pessoas a acreditar em determinados paradigmas, levando-as a cometer as maiores atrocidades em defesa desses ideais.

Contrariando as suas convicções ideológicas, o tema do projecto semanal imposto ao professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel), em tempos defensor do modelo anarquista, vai ser a Autocracia. A descrença dos alunos na possibilidade de ver um regime fascista instalado na Alemanha dos dias de hoje, vai servir de desafio ao conhecido "Rainer". Desde logo, o professor dá lugar a um Herr Wenger, que simula um sistema de ensino autocrático, liderado por ele próprio, para lhes provar como é fácil incutir os benefícios da igualdade, da justiça e da ordem. Os mais tímidos sentem-se integrados e com força para enfrentar tudo e todos, antigas rivalidades deixam de existir e problemas xenófobo-raciais deixam de fazer sentido. O facto de não terem de pensar por eles próprios, integra-os e repousa-os.

Eu pelo meu lado, acho que isto da autocracia, funcionaria bem lá em casa.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Uma chamada para o mundo


Quando eu era miúdo, o sexo era tabu lá em casa. Pura e simplesmente não se falava sobre o assunto.

Ainda tenho presente a inédita sensação ao acordar de um sonho molhado. A descoberta do corpo, o despertar do prazer, faziam parte de uma aprendizagem muito íntima, quase secreta. Eu e os meus amigos comprávamos a famosa “Gina” e deliciávamo-nos a ver mulheres nuas. Na escola, a revista andava de mão-em-mão, originando apressadas e breves idas à casa de banho. Daí, aos risinhos histéricos das meninas que assistiam connosco aos filmes porno, foi um tirinho. Os filmes pornográficos surgiam da necessidade de algo mais, da natural vontade de aprender, da busca de respostas (achávamos nós) capazes de, heroicamente, nos levar à acção.

Em 1995, Larry Clark, sob a produção de Gus Van Sant, faz um filme chocante sobre a adolescência. Eu tinha 25 anos e fiquei perplexo com a maneira caótica como a vida e o mundo são abordados. Com apenas 12, 13 anos de idade, estes miúdos faziam coisas que eu, com a idade deles, não imaginava poder fazer. Sexo, sexo em grupo, com drogas e álcool à mistura, são assustadoramente banalizados. Pela primeira vez, o tema da SIDA é abordado no cinema, na perspectiva de uma adolescente que contraí o vírus e, na tentativa de evitar que a doença se propague, procura o seu parceiro sexual, para o alertar.

“Kids”, (1995), é o primeiro filme deste realizador, que nunca mais abandona este tema. Vale bem a pena ver Rosário Dawson, com apenas 16 anos, e Chloe Sevigny. O filme marcou-me de tal maneira, que me levou a ver “Bully” (2001), “Ken Park” (2002) e “Wassup Rockers” (2005).

Macacas me mordam!

Não há dúvida que estamos perante uma sociedade machista. Mas, mesmo assim, existe quem insista em criar heroínas para as grandes telas. E não, não estou a falar das namoradas do Demolidor ou do Batman, isso aí... Frank Agrama resolveu criar uma gorila "de peso", estou a falar de “Queen Kong”, 1976.

A história é, basicamente a mesma, em versão feminina, desta feita em jeito de sátira ao King Kong de 1933. A gorila Queen Kong vai apaixonar-se pelo protagonista da história, Ray Fay (Robin Askwith), protegendo-o dos perigos da selva. O trocadilho dos nomes acentua o tom irónico do filme, visto que a actriz Fay Wray era a “namorada” do King Kong. Embora Ray sinta alguma coisa pela gorila, não vai evitar que a raptem e a levem para a cidade.

Filme em tom de gozação, cómico/dramático, musical e com muitas mulheres quase despidas (algumas até valem a pena), chega a ser considerado um filme de culto para alguns cinéfilos menos exigentes.

terça-feira, 19 de maio de 2009

O menino dança?

Gosto imenso de ver filmes que me transportam para outros mundos. Consigo ver a vida sob outro prisma, imagino-me numa pele que não a minha. Fico fascinado com as diferenças de atitudes, os diferentes comportamentos culturais perante a educação, a família, a religião, a moral, o amor...

Nas minhas viagens pelo cinema-mundo, deparei-me com um filme que me tocou profundamente: "Os passos do amor" (Sipur Hatzi-Russi), escrito e realizado pelo israelita Eitan Anner, em 2006.

Chen (Vladimir Volov), filho de mãe russa e pai israelita, é um jovem que cresceu no seio da miscigenação cultural herdada dos pais. Rude e machista, o pai acha que a mulher nasceu para cuidar da casa e tomar conta dos filhos. A ambição de vida da mãe, que gosta de dançar, cantar e divertir-se, é criticada pelo marido, que vê nessa atitude o lado boémio daquele povo.

No dia em que comemoram anos de casados, o marido recusa-se a ir ao baile, e é Chen quem acompanha a mãe, sem imaginar as consequências que isso iria acarretar na sua vida. Surpreendido por um amor à primeira vista, ingressa secretamente na escola de dança, na expectativa de conquistar a bailarina russa que viu naquele dia, e cuja principal ambição é vencer o campeonato nacional. A escola, que é dirigida por um par de ex-bailarinos profissionais, é o único elo que os mantém unidos, enquanto casal.

Cha cha cha, rumba e valsa vão ser os condimentos principais neste drama sensível onde o prazer de "dançar por dançar" transcende todas as fronteiras.

domingo, 10 de maio de 2009

"Grande Vaca!"


Eu sou homem com H. Na sociedade em que vivo, o homem tem muito mais liberdade, pois mesmo que lhe "descubram a careca", não é tão mal visto. Por outro lado, se for a mulher a assumir uma atitude mais leviana ou tiver comportamentos menos expectáveis, automaticamente é criticada e rotulada de puta.

A perda de desejo é mais recorrente nas mulheres que nos homens. Deixem propor-vos o seguinte cenário: a mulher chega a casa e é constantemente ignorada sexualmente pelo marido. O sangue corre-lhe nas veias deixando-a excitada, sedenta de sexo. Beija-o e ele evita-a, preferindo a televisão. Tenta uma abordagem mais directa, e ele mostra-se indiferente. Passa um dia, uma semana, um mês e a sua frustração vai ganhando forma.

"Romance X" (1999), da francesa Catherine Breillat, fala-nos dos demónios interiores da sensual Marie (Caroline Ducey), em relação à sua vida conjugal e sexual. Casada com um modelo sem apetite sexual (por ela), a jovem decide "vingar-se", na tentativa de preencher um vazio, fruto de meses de jejum. Um filme explícito (cenas de sexo reais e cruas) sem ser pornográfico.

Eu quero ter mais respeito pelas mulheres, e por aquilo que elas possam escolher para a sua vida, mas sou muito Homem para o admitir. Confesso, porém, que este filme fez estremecer as minhas másculas convicções e deixou sérias questões a pairar na minha cabeça.

sábado, 9 de maio de 2009

Eu, viúva, 8 anos

Tenho oito anos. Sou uma menina extrovertida e gosto de brincar com as minhas bonecas. Tenho uma imaginação fértil, digna de uma criança da minha idade e adoro inventar histórias com os meus brinquedos. Faço teatros, mímicas e gosto de imitar vozes. Danço, canto, pulo e a minha energia parece não se gastar. Anseio pela chegada dos meus pais a casa para poder ouvir as novidades de mais um dia. Gosto de rir, de falar e de brincar com eles. Não tenho preocupações nem responsabilidades. Sou uma menina de oito anos.

Hoje vêm-me buscar. O meu pai perguntou-me se me lembrava de ter casado. Não sei o que isso quer dizer, nem quero saber. Tenho o meu próprio mundo, e isso basta-me.

Vão levar-me para longe dos meus pais e não me sinto preparada para tal. O meu suposto marido morreu e ninguém me explica o que está a acontecer. Adivinho que isso não é bom, não sei porquê, não entendo.

Entro numa casa onde só há mulheres. Que fazem elas ali? Onde estão os homens que deveriam tomar conta de nós? Onde está a felicidade destas pessoas que estão apenas à espera que o tempo passe? Não percebo.
Eu apenas quero brincar. Eu só tenho oito anos de idade.

"Água" (2005), da indiana Deepa Mehta é o último filme da trilogia Elementos, a que pertencem também "Fogo" (1996), e "Terra" (1998).

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Tatoos

Há filmes que, por uma razão ou por outra, cravaram a minha memória, sem que na altura entendesse a dimensão dessas marcas. Os anos passam e certos pormenores permanecem. Porquê? Simplesmente porque era o filme para ver naquele dia, àquela hora, naquele minuto.

“A Luz” (1987), do Maliano Souleymane Cissé, que vi no cinema ACS em Alvalade, foi um desses filmes. Pouco me lembro. Para além da fotografia, recordo vagamente a viagem de um homem com poderes mágicos. Nunca me esqueci do nome do realizador, do título do filme e da sensação de ter saído do cinema "iluminado".

“Café Bagdad”, realizado pelo Alemão Percy Adlon em 1987, foi outro dos casos. Ainda tenho presente as personagens do filme, as vidas de pessoas que encontramos todos os dias, mas cuja vulgaridade não nos leva a procurar conhecer mais a fundo como, por exemplo, a gorda Jasmin (Marianne Sagebrecht).



O pormenor da música de Ryuichi Sakamoto enfeitiçou-me no filme "Merry Christmas Mr. Lawrence" (1983), do realizador japonês Nagisa Oshima.




A cor dos filmes de Akira Kurosawa transmitiram-me sensações inesquecíveis. Pode parecer uma mera curiosidade, mas o facto de os filmes serem previamente desenhados em papel pelo realizador, não é puro acaso. Lembro-me de "obrigar" os meus pais e o meu irmão a ir ao cinema mundial ver o "RAN" (1985). Claro que aproveitaram as quase três horas de filme para dormir, enquanto eu me rendi às lutas de cores.

Nunca me hei-de esquecer da "maluqueira" de Terry Gilliam em "Brasil: o outro lado do sonho" (1985), bem como da soberba interpretação de Robert De Niro.

O primeiro filme dos Irmãos Coen, "Sangue por Sangue" (1984), foi, para mim, genial. Perfeito enredo filme Noir: marido-mulher-amante envolvidos em esquemas intensos, quase desprovido de luz (eu até tinha ideia do filme ser a preto e branco).

Pedro Almodovar e Carmen Maura fizeram-me, macabramente, sorrir com a desgraça alheia em "Que fiz eu para merecer isto" (1984).

E quem se esquece da nudez explícita de Valérie Kaprisky no filme do polaco Andrzej Zulawski, "A Mulher Pública" (1984)?

Enfim, poderia estar aqui a escrever páginas e páginas sobre pormenores que nunca me abandonaram em filmes que outrora vi. São esses pequenos-grandes nadas que os tornam especiais, autênticas tatuagens.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Brincar aos médicos

A forma como enfrentaríamos a morte das pessoas seria diferente se trabalhássemos com ela no dia-a-dia? Tornar-se-ia banal? A questão faz-nos pensar na maneira como abordamos o tema da morte. Morgues, cemitérios e agências funerárias tratam a morte por "tu". Médicos, bombeiros e soldados enfrentam-na todos os dias. Outros... "brincam" com ela.

Se te propusessem matar alguém, quem matarias? Será mesmo preciso uma razão para matar? Ou qualquer motivo serve? Como animais que somos, fará parte da natureza humana?

Patologia (2008) - derivado do grego pathos, sofrimento, doença, e logia, ciência, estudo - de Marc Schoelermann, é um filme extraordinário e inquietante. O início do filme remete para uma possível realidade passada numa morgue, e desafia o bom senso, no sentido em que os cadáveres são tratados como brinquedos de carne e osso. Um grupo de jovens médicos-legistas entra numa escalada competitiva, um verdadeiro "jogo", para conseguir determinar as causas da morte. A rivalidade entre colegas obriga a um despique constante para eleger aquele que consegue descobrir a razão do corpo estar sem vida. Mas, a certa altura, o grau de exigência das autópsias deixa de ser desafiante, e a busca de novos estímulos leva-os a estados alucinantes e inconscientes. Há que subir de patamar.

"Let's take a look inside"?




quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sangue, muito sangue

Os primeiros filmes que vi do chamado cinema Gore foram, se não estou em erro, de Umberto Lenzi: “Comidos vivos” (1980) e “Canibal Feroz” (1981). Mas quem me convenceu a seguir este tipo de cinema com a maior das atenções foi o realizador americano Sam Raimi com a triologia Evil Dead, "A Noite dos Mortos Vivos" (1981), "A Morte Chega de Madrugada" (1987) e "O Exercito das Trevas" (1992). As pessoas que foram comigo ao cinema, saíram a meio do filme, pois acharam que aquilo “era uma palhaçada”. Sejamos justos, ou uma pessoa entra dentro do espírito do filme ou… uma mão ensanguentada a correr atrás das personagens, a dar-lhes estaladas e apalpadelas no rabo, não é para todos.

O cinema Gore é conhecido pelas exageradas cenas de desmembramentos vários, estripamentos, cabeças esmagadas, olhos furados, cérebros abertos e sangue, muito sangue. Filmes violentos existiram e sempre vão existir, mas o que torna o Gore irresistível são as suas imagens explícitas. Este tipo de filmes atrai as pessoas pelas suas cenas chocantes e de mau gosto. Enquanto uns se sentem seduzidos, outros poderão perguntar: "mas porque quero eu ver filmes com sangue e desmembramentos?" mas essa não é a questão. A questão é poder não vê-los, por opção. A escolha é sempre importante. Devemos poder escolher por nós, e não sancionar as escolhas de terceiros.

Amante deste tipo de cinema, passei a apreciar o género e vi: "A Noite dos Mortos-Vivos" (1968), “O Despertar dos Mortos” (1978); “O Dia dos Mortos” (1985) de George A. Romero; “Massacre no Texas” (1974) de Tobe Hooper; “Holocausto Canibal” (1980) realizado por Ruggero Deodato; “Bad Taste” (1987), “Meet the Feebles” (1989) e “Braindead” (1992) de Peter Jackson; “Suspira” (1977), “Inferno” (1980) e “Phenomena” (1985) de Dário Argento ; “Fogo Maldito” (1987) de Clive Barker; “A maldição dos mortos-vivos” (1988) foi o nome dado em português ao filme de Wes Craven, “The serpent and the rainbow”. Ainda bem que o filme não foi traduzido à letra, senão teria ido ao cinema com a minha filha a achar que ia ver um filme do principezinho.


sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sopas de tomate

Após uma noite tranquila, a cidade volta a acordar para mais um dia. Uma a uma, as ruas vão-se enchendo de uma multidão incógnita. Os comerciantes apregoam os seus produtos, as lojas abrem as portas para receber os seus estimados clientes. Miúdos levados às escolas, graúdos a caminho dos empregos. Carros e mais carros invadem as ruas, até há uns minutos atrás desertas. As árvores abanam os seus ramos em direcção ao céu, perdendo algumas folhas pelo caminho. Tudo corre com normalidade na vida destas pessoas.

Ouve-se um estrondo ao longe, a terra treme um pouco. Mas passa despercebido aos habitantes desta cidade. Passam-se uns minutos… um novo tremor, desta feita bem sentido. As pessoas não sabem bem o que se passa. Param por uns minutos mas voltam à correria do costume.

Mas, de repente… o barulho é ensurdecedor, a terra parece fugir debaixo dos pés. Elas deixam de fazer o que estavam a fazer e a visão que lhes aparece é inimaginável. É aterrorizadora. É indescritível.

Elas correm. Elas fogem. Escondem-se… mas não há para onde ir. A cidade é tomada, e os corpos dos cidadãos, que outrora viviam naquela pacata cidade, amontoam-se ensanguentados pelas ruas. Cabeças abertas, membros dispersos, tripas esventradas, invadem a cidade sangrenta.

Não há como pará-los. Ninguém sabe o que fazer. Nem Estados ou governos. Nem exército ou marinha. O mundo está perdido.
Ninguém está a salvo. Esta cidade está tomada. Preparam-se agora para "ganhar tomates" e invadir outra.


terça-feira, 21 de abril de 2009

Gooooooolo!


Futebol não é bem o meu forte. Evidentemente que sou adepto de um clube. O meu avô era desse clube, o meu pai também é, e eu, ainda puto, acabei por me converter a esse mesmo clube.

Quando chego ao escritório no malfadado dia de Segunda-feira "levo" sempre com os meus colegas a falar da jornada do fim-de-semana. Eu não consigo acompanhá-los. Para além de não ter visto grande coisa, eles utilizam palavras e frases que desconheço, género: “domina o esférico e faz uma assistência; defesa homem a homem ou à zona; pontapé na atmosfera; meio-campo em losango…” por mim, até acho que deveria ter dado mais atenção às aulas de filosofia!

Apesar de não gostar, vou abrir uma excepção para o chamado desporto-rei, e falar de cinco filmes que têm importância naquilo a que me proponho. E não estou a falar da “Angústia do guarda-redes na altura do penalty” (1972) de Wim Wenders, cuja a única memória que tenho prende-se com a curiosidade que o título desperta.

Começo pelas senhoras: Bend it like Beckham (2002) do queniano Gurinder Chadha, que nos fala dos costumes indianos, e de como uma rapariga vai enfrentá-los, ao optar por uma carreira numa equipa de futebol feminino.




Dias de futebol (2003) do Espanhol David Serrano, em que quatro amigos com vidas desprovidas de qualquer interesse têm finalmente um objectivo comum: voltar a juntar a equipa de futebol que tinham na sua juventude.

Na maior (2000) do Inglês Mark Herman, onde dois amigos pobres e delinquentes, tudo vão fazer para conseguir um passe de época para assistirem aos jogos do Newcastle.

À semelhança de “Fuga para a vitória” (1981) de John Huston, A Máquina (2001) do realizador Barry Skolnick, conta-nos a história de alguns prisioneiros que se juntam e formam uma equipa para defrontar os guardas prisionais.

E por fim Stephen Chow traz-nos uma comédia de futebol "marcial" cheia de acção e efeitos especiais, Shaolin Soccer (2001).




Com tantas sugestões... só eu sei porque não fico em casa.

Reflexivo


Há quem diga que as crianças são cruéis. Que os mais fortes tendem a pôr de parte os mais fracos. Temos o exemplo disso na obra “O Senhor das Moscas" (Lord of the flies) do escritor William Golding, a partir da qual foram feitos três filmes.

Mas não precisamos de ler o livro, ou ver o filme para sabermos que isso é verdade. Todos nós, quando pequenos, púnhamos de parte aquelas crianças que, por algum motivo, se diferenciavam: tinham óculos, eram gordas, tinham um defeito físico, gaguejavam… Enfim, ou eram "normais" ou estavam tramadas. Mas afinal, no homem prevalece a maldade ou a bondade intrínsecas?

Quem não escapa à maldade dos miúdos, é certo, são os animais. O gozo que me dava meter uma palha pelo rabo de um moscardo, para ele voar sempre em frente, indo contra o que lhe aparecesse no caminho... meter cascas de nozes nas patas dos gatos, largá-los nas descidas de alcatrão e vê-los sem qualquer controlo até esbarrarem contra um muro... ou mesmo agarrar num sapo e meter-lhe um cigarro aceso na boca e esperar que ele explodisse.

Não fui o primeiro, nem serei o último a cometer tais "atrocidades".

“A Criança Espelho” (1990 The reflecting skin), do realizador inglês Philip Ridley começa onde eu acabei. Três miúdos agarram um sapo, enchem-no de ar e, com uma fisga, fazem explodir o animal. O filme é passado numa aldeia rural na década de 50, e conta a experiência de vida de um adolescente onde sexo, violência e morte são uma constante. Não encontrando uma explicação para as coisas, deturpa a realidade, levando-o a pensar que a vizinha Dolphin Blue (Lindsay Duncan), com quem o irmão (Viggo Mortensen) namora, é vampira e anda a matar as pessoas da comunidade.

Na fase da adolescência, ou nos deixamos levar pelo "faço o que gosto", seguindo a fantasia, ou se decide com sabedoria "faço o que me faz bem". À velha questão: "o homem é bom ou mau?" o jovem Seth Dove (Jeremy Cooper) responde com o reflexo da sua própria adolescência.


quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quem canta seus males espanta

Enquanto o fumo esvoaça à minha frente os meus olhos perdem-se no infinito, e tudo passa pela minha mente. Nesta altura, perdido em sonhos, sou capaz de vasculhar a minha mente e ir ao encontro de sentimentos aí guardados. E como expressar esses sentimentos?

John Turturro encontrou, na sua terceira longa-metragem, a maneira de as suas personagens expressarem os sentimentos mais profundos. Todos elas falam, conversam, dialogam, mas quando chega a altura de expressarem os seus sentimentos mais profundos... cantam.

Para demonstrar como ele descobriu que a mulher o traía Cousin Bo (Christopher Walken) canta “Delilah”, ao som de Tom Jones marcando um dos momentos altos do filme (vejam o clip).

“Romance & Cigarros” (2005) é um filme sobre a realidade vivida pela classe trabalhadora, em que o dia-a-dia é retratado através da música. James Gandolfini, Susan Sarandon, Kate Winslet, Steve Buscemi, Christopher Walken, Mary-Louise Parker, Eddie Izzard, Adam LeFevre são alguns dos actores que levam este filme a bom porto.