terça-feira, 31 de março de 2009

Parar o tempo

Se pudessem parar o tempo o que fariam?
Se tivessem pela frente um mundo inteiro parado e só vocês respiravam, o que eram capazes de fazer?

Levei toda a minha infância a sonhar com "Never Ending Story". Alguém que nos dizia que tínhamos que sonhar ou esse mundo acabaria. Eu segui à risca. Nunca parei de acreditar que existiriam coisas para além da nossa vida do dia-a-dia. Agarrava numa pedra grande e dela fazia um castelo. Das pedras mais pequenas, soldados para defender o território. As folhas que apanhava eram dragões alados que atacavam o castelo. Ramos e troncos de poderosos cavaleiros que defendiam com bravura a torre do castelo onde vivia a princesa. Cresci e… continuo a sonhar, coisas diferentes bem sei, mas sempre a sonhar parar o tempo.

O filme de que vos venho falar é ingénuo, artístico, bonito, imaginário.
O principiante realizador inglês Sean Ellis tras-nos um filme com personagens bem construídas e imaginadas. O argumento é fantástico. E não acredito que a produção fosse muito cara.

Cashback (2006) entre nós traduzido para “Bem Vindo ao Turno da Noite”. Ben Willis (Sean Biggerstaff) tem o dobro do tempo que nós temos para sonhar, pois por uma zanga de amor perdeu o sono. Com essas oito horas sem dormir decide arranjar um turno à noite num supermercado para assim as preencher. Como aluno de belas artes que é, pára o tempo para assim ter tempo para contemplar a beleza dos seus modelos.


Sabor a...

Muitos são os realizadores que tomam o caminho de chocar o público. Tsai Ming-Liang não é excepção. Já o tinha feito, com algum sucesso em "Bu San" (2003) através da personagem que coxeava porque no lugar de uma perna tinha um braço...

Volta a tentar com o musical made in Taiwan "Tian bian yi duo yun" (2005). "O Sabor da Melancia" tem cenas bastante interessantes mas não tão ousadas quanto provavelmente ele desejaria.

Shiang-Chyi (Chen Shiang-Chyi) volta à sua cidade natal onde encontra um clima indiscritível associado à falta de água. Isto leva-a, entre outras coisas, a matar a sede com melancia! Ela começa um romance com um suposto vendedor de relógios Hsiao-Kang (Lee Kang-Sheng) que afinal é actor de filmes pornográficos de baixa produção. Tão baixa que parte do filme é filmado com uma actriz porno japonesa desmaiada, o que não facilita em nada as manobras. Shiang-Chyi segue de perto o "namorado" e acaba por surpreender tudo e todos ao tomar parte activa na cena final.

As músicas transmitem para mim uma vivacidade singular contrastando com o cenário de degradação instalado.

Embora a crítica não o tenha recebido de braços abertos, este filme levou para casa 3 prémios no Festival de Berlim de 2005 incluindo o Urso de Prata.

sexta-feira, 27 de março de 2009

GROTESCO

O que pensariam se vos dissesse que andava a “comer” a patroa… E que ela pariu um filho meu… E que o cabrão do marido me deu um tiro nos cornos… E que o filho da mãe do puto ganha a vida a comer e a vomitar? Tudo isto para acabar embalsamado...

Taxidermia filme largamente premiado, escrito e realizado em 2006 pelo húngaro Gyorgy Pálfi, um conto sobre três gerações de homens do qual não conseguimos tirar os olhos até ao final... e que final.

Eis a minha proposta.

Mais do mesmo

Depois de "perder a virgindade" face ao cinema tradicional com Greenaway seguiram-se do mesmo realizador:

- O contrato (1982)
- As cólicas de um arquitecto (1987)



- Maridos à água (1988)
- O cozinheiro, o ladrão, sua mulher e o amante dela (1989)
- Os livros de Próspero (1991)
- O bebé de Macôn (1993)

Os filmes deste realizador britânico são pinturas autênticas, manifestações de luz natural, naturezas mortas e cores carregadas. Temas originais compõem histórias criativas cheias de imaginação e sensibilidade. Como descrevê-los? Não é fácil. Cada um tem a sua particularidade.

Para além de tudo isto Greenaway convida músicos como Michael Nyman e Wim Mertens para comporem puras obras-primas. Desta forma podemos desfrutar visual e musicalmente de filmes aos quais eu chamaria GENIAIS.

E como hoje é sexta-feira aqui fica a minha sugestão para o fim-de-semana.

A minha primeira vez

Proponho falar-vos um pouco da minha iniciação nos filmes que ninguem vê. Começou cedo o meu interesse por todo o tipo de filmes, cinema era e é o meu mundo. É onde me refugío da sociedade, onde sou tudo e nada.
Em 1985 (tinha apenas 15 anos) levaram-me ao Quarteto para vêr um "filme de qualidade" (como lhe chamavam na altura), de um realizador que tinha começado na edição de filmes e que já há alguns anos se iniciara nas longas metragens. Seu nome Peter Greenaway. Um nome que nunca mais esqueci e que me abriu as portas para outro tipo de cinema.

Quando me perguntam qual o primeiro filme que vi de Peter Greenaway e o que mais me marcou respondo que o filme foi “Um Z e dois Ós”. Para o descrever dizia então que era a história de dois amigos a serem comidos vivos por caracóis.
É claro que o filme não é só isto, mas continuo a adorar vêr a reacção dos outros quando lhes digo ter visto um filme assim. E que até gosto muito, tanto quanto as reacções das pessoas.
Imaginem a preocupação da minha mãe em ter um filho com 15 anos a devorar filmes sobre a decomposição de corpos. "Criei um monstro!" - deverá ela ter pensado.