quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Sem excepção


Embora eu andasse na escola junto com as filhas de uns amigos dos meus pais, e elas contassem quase tudo aos pais delas que, por sua vez, se queixavam aos meus, eles nunca souberam da missa a metade... Lembro-me de faltar às aulas para ir atirar pedras aos alunos de outras escolas, furar os pneus aos carros dos professores, bater nos alunos mais fracos, roubá-los só para provar mais aos outros do que a mim próprio que era capaz de fazê-lo. Grande besta!


Ainda sinto a sensação que tinha cada vez que o telefone tocava: escondia-me debaixo dos lençóis e esperava a vinda do meu pai, enquanto fingia que estava a dormir. Se a coisa era grave, ele "acordava-me", senão amanhecia amedrontado na expectativa que, ao encará-lo, a noite de sono já o tivesse amansado. Aos 13 anos tive de dizer ao meu pai que tinha sido suspenso por dois dias, porque tinha atirado uma bomba de Carnaval para a reunião do Concelho Directivo. Aproveitei para acrescentar que estava chumbado por faltas, e ainda confessei que fumava. Exasperado, gritou, olhou-me desiludido e, para não dar cabo de mim, mandou-me desaparecer da frente. Terá pensado: "Mas onde é que eu errei?"

Gaby (Eduardo Gare) é um rapaz com 14 anos que tem medo de ir ao colégio, porque é perseguido por Guille (Eduardo Espinilla), o valentão da escola que se faz acompanhar por um grupo de amigos. Nem a sua família, nem os professores estão conscientes daquilo que se passa. Gaby encontra apoio em Carla, uma colega pela qual está apaixonado, e em Silvério, o dono da pizzaria onde jantam quase todos os dias. Proveniente de uma família rica e poderosa, Guille também tem medo: ele não quer decepcionar o pai que está longe de perceber os actos e atitudes do filho. “Cobardes” (2008), filme dos espanhóis José Corbacho e Juan Cruz, também realizadores de "Tapas" (2005), trata do tema da violência nas escolas e da falta de tempo dos pais para lidar com certas situações.

Como será que me vejo daqui a 30 anos e me lembrar dos meus 40?