sábado, 11 de abril de 2009

Procura-se carne fresca


Quando era miúdo brincava com o meu irmão, fingindo sermos comerciantes. A certa altura, tínhamos uma cadeia de talhos e, com as ferramentas do meu pai, imitando facas e cutelos, cortávamos a carne e aviávamos os fregueses: salsichas, costoletas, bifanas, entrecosto, entremeada, rim, fígado, nada recusávamos servir. Tínhamos balança e o arame para estender a roupa servia para ter a carne pendurada. Escusado será dizer que nem eu nem o meu irmão enveredamos por aquele caminho, felizmente.

Bjarn (Nicolaj Lie Kaas) e Svend (Mads Mikkelsen) tiveram a mesma ideia que eu e o meu irmão, mas desta feita criaram um talho real. Com feitios bem distintos, um com frequente síndrome de inferioridade e o outro que não quer saber de coisa alguma, descobrem a receita ideal para um negócio de sucesso. Esse acaso dá-lhes um objectivo de vida, do qual eles não se conseguem livrar, ou estariam a arriscar o negócio em ascensão. Leva-nos a pensar até que ponto estaríamos dispostos a ir para vingar profissionalmente ou para manter o sucesso alcançado. Oh vida a quanto obrigas!


Anders Thomas Jensen, realizador dinamarquês presenteia-nos com uma comédia cheia de surpresas inimagináveis. “Carne fresca, procura-se” (2003) lembra-me um pouco a maravilhosa sensação que tive quando vi “Delicatessen”. A ele voltarei.

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