terça-feira, 23 de junho de 2009

Menino de coro


Toda a minha vida tenho sido um tipo distante, frio e arrogante perante os outros. Nas festas, nos convívios sociais, no trabalho, se alguém fala comigo, até sou capaz de lhes responder, mas sem pôr de lado o ar altivo que me caracteriza e, sem esboçar um sorriso. Ignoro a presença de uns e desvio o olhar de outros. Tento concentrar-me em certos temas, faço um esforço para ouvir algumas pessoas, mas sem sucesso. Na escola fui suspenso duas vezes. Alguns professores prescindiam da minha presença destabilizadora, prometendo não me marcar falta, mas mesmo assim, não lhes fazendo falta nas aulas, consegui chumbar um ano por faltas. Fui expulso da catequese pela Dona Ângela, que argumentava que eu era uma má influência para os outros “cordeirinhos”. Na rua, atirava pedras, riscava os carros dos vizinhos e furava os pneus dos “stores”.

Quem ler esta descrição, há-de pensar: - porque é que o pai deste animal não o enfiou num colégio interno? Há-de achar que sou um selvagem, bárbaro e sem escrúpulos. Mas deixem que vos diga que… até não sou mau gajo.

“Cruel” (Ondskan 2003), nomeado para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2004, é a segunda longa-metragem do sueco Mikael Hafström. Propõe um amargurado olhar sobre os códigos sociais, a violência e o crescimento. Combina austeridade e fragilidade, sem estereotipos melodramáticos ou vícios de um típico “filme-choque”. O filme conta a história de Erik Ponti (Andreas Wilson), e a sua última oportunidade para se libertar de um passado de conflitos e violência. Mas o colégio é tudo menos um refúgio – aqui, o mal está sistematizado sob a forma da opressão.

Do que eu me livrei...


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