quarta-feira, 17 de junho de 2009

O Rei manda

As mulheres queixam-se porque têm que trabalhar, tratar da casa, dos filhos e do marido. Dizem que não têm tempo para elas. Não vejo onde está o problema. Ontem não tivemos empregada, tinha de "ir ao Doutor!". Tocou-me a mim apanhar o meu filho no colégio e passar a correr no supermercado, antes de ir para casa. Fiz as camas, lavei as casas de banho e nisto, chega a carrinha com a minha filha. Entre brincadeiras, choros e amuos, lavei a loiça do pequeno-almoço, arrumei a cozinha, despejei os cinzeiros, ajeitei as almofadas dos sofás e aspirei a sala. Parei a meio para enfiar os putos na banheira e aproveitei para preparar o jantar. Acabei de limpar tudo e tirei-os já enrugados do banho. Vesti-lhes os pijamas e escolhi um filme, enquanto fumava tranquilamente um cigarro. Tudo isto é possível quando a pessoa é organizada, disciplinada, metódica e não perde o comando da onda.


“A onda” (Die welle – 2008), título e símbolo do filme alemão, dirigido por Dennis Gansel, mostra-nos como é fácil levar um conjunto de pessoas a acreditar em determinados paradigmas, levando-as a cometer as maiores atrocidades em defesa desses ideais.

Contrariando as suas convicções ideológicas, o tema do projecto semanal imposto ao professor Rainer Wenger (Jürgen Vogel), em tempos defensor do modelo anarquista, vai ser a Autocracia. A descrença dos alunos na possibilidade de ver um regime fascista instalado na Alemanha dos dias de hoje, vai servir de desafio ao conhecido "Rainer". Desde logo, o professor dá lugar a um Herr Wenger, que simula um sistema de ensino autocrático, liderado por ele próprio, para lhes provar como é fácil incutir os benefícios da igualdade, da justiça e da ordem. Os mais tímidos sentem-se integrados e com força para enfrentar tudo e todos, antigas rivalidades deixam de existir e problemas xenófobo-raciais deixam de fazer sentido. O facto de não terem de pensar por eles próprios, integra-os e repousa-os.

Eu pelo meu lado, acho que isto da autocracia, funcionaria bem lá em casa.

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