quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mente "espartilhada"


A vantagem de ter uma família grande está na diversidade de histórias da mais variada índole, amor/ódio, fortuna/infortuna, aventuras/desventuras, e segredos que, mais tarde ou mais cedo, deixam de o ser. Tenho um tio cuja mulher o deixou para se juntar ao irmão dele, que por sua vez era casado com a irmã dela. Esta viria a casar com o marido da irmã, seu ex-cunhado. Confuso? Passo a explicar: A tia A, casada com o tio B separou-se para se juntar ao irmão dele, o tio BB. O tio BB era casado com a tia AA, irmã da tia A, por quem este a viria a trocar. Tantas voltas a vida deu, que a tia AA veio a casar com o tio B e, supostamente, vivem todos muito felizes com os “meus, os teus e os nossos”. Inconscientemente ou não, a mudança acabou por ser mínima, pois continuam a ser cunhados e a fazer parte da mesma família.

Em pleno início de século XX, Alma (Leonor Watling) é uma mulher moderna, muito “à frente” para o seu tempo, com horizontes amplamente alargados face às demais e casada com o conhecido psicanalista León Pardo (Àlex Brendemühl). Numa altura em que o interesse pelo estudo da mente está no auge, - com Freud a tentar dar um revolucionário status científico ao conceito de inconsciente - Pardo desaparece a poucos dias da visita do pai da psicanálise para uma palestra em Barcelona, onde decorre a acção. Alma pede ajuda a Salvador (Luís Tosar), seu cunhado, para analisarem os estudos do marido na tentativa de descobrirem o seu paradeiro. Com esta proximidade, Alma descobre que, apesar de conscientemente nunca o ter seduzido, Salvador nutre por ela desejos desde sempre reprimidos e, desse envolvimento nasce uma relação explosiva.

Numa
subtil sátira à sociedade daquela época, a personagem principal serve de prenúncio às surpreendentes mutações socio-economicas e político-culturais que antecedem os Loucos anos 20. Os Estados Unidos da América emergem como potência mundial e por toda a Europa, surgem movimentos nacionalistas que alimentam a criatividade artística.

A partir de 1913, ano em Mary Jacob patenteava o soutien, esta peça ficaria eternamente aliada à busca da sedução. Alma, pela sua essência, terá sido uma das primeiras mulheres a pôr termo à “escravatura do espartilho”, digo eu. “Inconscientes” (2004), do catalão Joaquín Oristrell, é tudo isto e muito mais…


Sem comentários:

Enviar um comentário