terça-feira, 10 de novembro de 2009

Assustador



A droga é um problema real. Nunca me preocupei muito com isso. Toda a minha vida vivi com ela junto de mim sem nunca ter enveredado por aí. Claro que fumei charros, quem não o fez? Agora tenho dois filhos que crescem a uma velocidade alucinante e essa questão assalta a minha cabeça a cada dia que passa. Tenho visto de tudo e, não me venham dizer que isso só acontece aos outros, porque, seja qual for a educação, religião, nível social, o problema da droga não escolhe ricos ou pobres, pode bater à porta de qualquer um. Por isso sinto medo.

Considero que cannabis, heroína, cocaína, ecstasy, não são as únicas substâncias nocivas que levam à dependência. O álcool, o tabaco, os comprimidos para dormir, para não dormir, para acordar, emagrecer, ou mesmo para rir e nos sentirmos mais felizes, podem ser "drogas" tão ou mais viciantes quanto as outras. Os simpatizantes de policonsumos (associações de substâncias ilícitas e/ou lícitas), muito em voga nas camadas mais novas, não se consideram toxicodependentes, mas são uma preocupação crescente na sociedade.



“A vida não é um sonho” (Requiem for a dream 2000), do argumentista/realizador americano Darren Aronofsky, é um filme sobre essa realidade. Sara Goldfarb (Ellen Burstyn), é uma mulher solitária que encontra o sentido da vida numa possível ida a um concurso televisivo. Para caber no seu melhor vestido vai ter de emagrecer rapidamente tomando comprimidos (ácidos) para atingir o seu objectivo. Harry Goldfarb (Jared Leto), a sua namorada Marion (Jennifer Connelly) e o seu amigo Tyrone (Marlon Wayans), só têm uma coisa em comum: apesar de consumidores, nunca admitem estar “agarrados”. À medida que o tempo vai passando a dependência deles vai sendo cada vez mais evidente, nem Tyrone sai daquela vida, nem Harry ajuda a cumprir o sonho de Marion. E de repente vêem-se a fazer coisas que jamais fariam em condições normais.
20 prémios e 33 nomeações uma delas para o Óscar da Academia para melhor actriz (Ellen Burstyn), reconheceu a esta longa-metragem o seu devido valor.

Eu gostava que os meus filhos vissem este filme, mas com que idade serão eles capazes de sentir o mau-estar, a sensação de impotência que eu senti durante o filme? Qual é a altura certa para eles perceberem a degradação a que estamos sujeitos a partir da primeira experiência? Só senti o buraco no peito com que fiquei no fim do filme quando li "Viagem ao mundo da droga” de Charles Duchaussois. Que idade teria eu?

2 comentários:

  1. Nunca foi uma coisa que me chamasse a atenção, a droga, apesar de viver num meio em que ela estava sempre presente e mesmo "debaixo do meu nariz"... Tenho esperança que a minha filha encare tudo isso da mesma maneira que eu... de uma maneira desinteressada e sem curiosidade de qq especie... Ah, e o tabaco é lixado... Qq dia deixo de fumar...

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  2. Ao tempo que ando para colocar um comentário a este post... mas primeiro deparei-me com os problemas de comentar devidamente identificado, mas apesar de eu achar que entendo alguma coisa de computadores, nunca consegui... depois fui deixando passar até que hoje, escondido por um falso anónimo, cá faço o meu comentário!!!
    Tenho lido todos os teus posts, uns com mais atenção do que outros, no entanto nunca nenhum me fez mexer tanto quanto este... não pelo filme, mas sim pelo tema e principalmente por aquilo que escreves, que certamente é a preocupação de todos os pais minimamente conscientes... Bem sei que os nossos filhos ainda não estão em idade que nos possam dar este tipo de preocupações!!! No entanto, ao ritmo a que as coisas passam, caminham a uma velocidade galopante para o "abismo"... aquilo que nós confortavelmente queremos chamar a idade da "estupidez", mas que na realidade é a idade da afirmação deles, sem que muitas vezes estejam preparados para tal, correndo o sério risco da tomada de decisões erradas... e é isso que me assusta!!!
    No meu caso, NUNCA FUMEI 1 CHARRO, mas não me considero com mais moral por isso... se não o fumei foi porque não quis, porque oportunidade não me faltou... mas nunca calhou nem me atraiu, vai-se lá saber porque?!?!?! Muito possivelmente, neste aspecto irei morrer estúpido, pois não creio que seja com esta idade que o vá fazer!!! Mas o facto de nunca ter experimentado não me inibiu de conhecer esse mundo onde a vontade de ser igual aos amigos, de "acompanhar a onda", do medo da rejeição por parte do clã ou até mesmo da mera curiosidade... e é isso que também me assusta!!! Mas tomara nós que o único problema fossem os "charros"... efectivamente os riscos são muito maiores do que esses e o tema das dependências é muito mais abrangente do que aquilo que nós pensamos!!!
    Deixa-me só corrigir-te num seguinte ponto: Eu não conheço o filme que dá mote a este post, e mesmo acreditando na sua qualidade por ti relatada (e quem melhor para o fazer!), assim que os teus filhos puderem ter sensibilidade e compreensão para estas questões, mais importante do que verem o filme, será lerem o post do pai para que possam sentir o "terror" em que se vive de saber que eles poderão não estar a tomar as melhores opções... acho que lhes devias aconselhar este post!!! Se não te importares... eu vou aconselhar aos meus!!!
    1 grande abraço,
    Bruno Martins

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