quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Memórias de sotão


Sempre julguei que, quando crescesse iria ser artista. Junto com os meus primos e com a ajuda de alguns tios, fazíamos teatros. Treinávamos e decorávamos os textos para, durante o fim-de-semana, apresentar aos crescidos. Desde a Cabra Cabrêz – salto-te em cima faço-te em três - até à Nau Catrineta, em que o meu irmão, que tinha apenas uma linha para dizer: “- Isto é demais para um guarda só!”, se enganava constantemente e dizia que era demais para um guarda-sol. E não pensem que era de qualquer maneira, não, vestíamo-nos a rigor com qualquer trapo que descobríssemos nos baús que existiam no sótão. Baús esses cheios de coisas antigas embrenhadas em mistérios passados, onde encontrávamos também o material necessário para a montagem dos cenários.

“Chansonia” era, para três amigos, o sonho de vida, como para nós eram aqueles teatros que fazíamos quando pequenos. Com a vitória da frente popular em França, decorre o ano de 1936, o pequeno gueto de Faubourg, é afectado pelo desemprego e pelas lutas sindicalistas, obrigando ao fecho do teatro de bairro. Pigoil (Gerard Jugnot), Milou (Clóvis Cornillac) e Jacky (Kad Merad), aliados a Deuce (Nora Arnezeder), vão lutar para que a Chansonia resista a estes tempos conturbados com a "ajuda" de Galapiat (Bernard-Pierre Donnadieu), o mafioso da vila. A vida de Pigoil ainda se complica mais quando lhe é retirada a custódia do filho e, para que possa resolver a situação, terá mesmo de arranjar trabalho.

Faubourg 36” (2008), do realizador francês Christophe Barratier que, em 2004, nos tinha surpreendido com uma obra soberba chamada “Os Coristas”, devolve-nos a esperança de que podemos alcançar qualquer coisa na vida, se quisermos, bastando para isso acreditar e não deixar morrer o sonho.

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