sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Dormir de olhos abertos

Os meus pais tinham de fechar a porta à chave e retirá-la para eu não sair para a rua. Fartava-me de fazer coisas durante a noite e, de manhã, não me lembrava de nada. Certo dia, levantei-me, tomei banho, vesti-me e sentei-me à entrada da casa. Quando o meu pai acordou e me viu naquele estado, perguntou-me o que é que estava a fazer e eu, não fazia a mais pequena ideia. Como é possível uma pessoa tomar banho e nem assim acordar? Pois garanto que foi isso que me aconteceu.

O sono tem cinco estágios durante os quais as ondas cerebrais diminuem de intensidade até atingir um profundo estado de relaxamento. A baixa actividade mantém-se no hipotálamo, ligado à consciência, e no córtex cerebral, que controla os movimentos do corpo. No caso dos sonâmbulos, essas ondas, vindas de uma área do cérebro chamada ponte, são irregulares. Por isso não cumprem a contento a função de inibir a região motora. Como as áreas motoras permanecem activas, o sonâmbulo é capaz de se sentar, andar e trocar a roupa. Já a área relacionada com a consciência mantém-se quase inactiva. Isso explica que quem sofre desse distúrbio, não perceba o que faz nem se lembre de nada no dia seguinte.

Até onde nos pode levar o sonambulismo? O que é que uma pessoa é capaz de fazer neste estado?

“Transferência mortal” (Mortel transfert 2001), do francês Jean-Jacques Beineix, trata a história de Michel Durant (Jean-Hugues Anglade), um psicanalista que passa os dias no seu consultório a ouvir Olga Kubler (Helène de Fougerolles), uma perversa cleptomaníaca com tendências sadomasoquistas. De tal forma este assunto desperta Michel, que este acaba por adormecer nas consultas. Numa das sessões, enquanto “passava pelas brasas”, a paciente deixa-se matar. Quando o médico acorda e percebe que ela está morta e que foi asfixiada, vai ter alguns problemas para resolver: quem a matou? (as dores que tem nos braços podem levá-lo a pensar que terá sido ele); como se livrar do cadáver?; como não deixar a policia desconfiar de nada e como se desenvencilhar do marido de Olga que a procura incessantemente?



1 comentário:

  1. LOL, e no presente? esse estado de sonambulismo mantêm-se? Não deixa de ser uma boa desculpa ;)
    Isabel

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